Conheça o ponto de vista de uma especialista no assunto, a Cristina Borrego, parceira da ATS de longa data e com grande experiência no assunto.
1. Pensando nas mudanças atuais no mundo do trabalho, em que o home office, o trabalho híbrido, os contratos temporários de trabalho, as parcerias, acabam por definir as relações nas empresas, como podemos entender o papel do conhecimento a ser transmitido e o produzido ao final dessas novas experiências?
Cristina Borrego: Considero, talvez, o maior desafio para as empresas nesse momento, na medida que saber interpretar informações e usá-las para o negócio sempre foi estratégico, mas numa economia em que a digitalização já atinge cerca de 40% das empresas globais, respostas ágeis ou aquelas adaptadas a melhor solução, é o caminho para manter a “roda girando”. Portanto, saber exatamente como funcionam seus processos de produção e trabalho, de quais dados e informações eles se alimentam, torna-se essencial para a base inicial de criação do ambiente de gestão do conhecimento que dá estofo para o negócio – não importando sua natureza ou tamanho. Conhecimento é estratégia, não há como pensar de outra maneira e ele se constrói de forma coletiva. Pessoas (envolvidas no negócio), e a empresa devem saber compartilhar conhecimento, de tal forma que práticas de retenção devem ser desenvolvidas por todos.
Em um ambiente de mudanças, como o que estamos vivendo desde 2020, a gestão do conhecimento, por meio de todas as informações que podem fornecer e suscitar um cenário de análises, é o ativo mais importante para a adaptação das empresas à realidade presente.
2. E quais seriam as condições necessárias para a criação de um ambiente favorável à implantação da gestão do conhecimento na empresa?
Cristina Borrego: O conhecimento se constrói por meio de um ciclo: é necessário que se identifique quais são as informações que estão relacionadas ao nosso fazer, quais são as pessoas ou grupos que criam e buscam as melhores soluções e procuram sistematizar o conhecimento produzido. Os próximos passos cabem ao armazenamento desse conhecimento – e aqui o papel das tecnologias é fundamental, como EMC, Portais, redes colaborativas, entre outras soluções, e por fim o compartilhamento desse conhecimento, agora organizado e que se torna material de acesso as formas de aprendizagem tradicional. Esse ciclo, uma vez entendido como mais um processo para realização do negócio, deve se desenvolver em um ambiente de total segurança para a criação de experiências, com lideranças que abracem as iniciativas dos colaboradores e criem o workplace learning, ou o aprendizado no ambiente de trabalho, implementado pela importância do lifelong learning, ferramenta para todos os profissionais.
Conhecimento é um produto humano, fruto de como captamos dados e informações e transformamos em novas informações e aplicações, é um processo de aprendizagem.
3. Com a demanda constante por inovação e soluções disruptivas para seus negócios se manterem vivos, as empresas mesmo contando com planejamento para a gestão do conhecimento, devem ouvir e estar atentadas para quais sinais?
Cristina Borrego: Para aqueles que trabalham com consultoria ou estão engajados em processos de gestão do conhecimento, a sensação é se sentir com “um olho no peixe e outro no gato”, na medida em que “o peixe” – as formas tradicionais de adquirir conhecimento e aprendizagem continuam sendo o seu alimento, mas a qualquer momento, “o gato” – a transformação digital, as opções de futuro, que estão se estabelecendo, podem nos obrigar a buscar outras formas e alternativas de adquirir o alimento (conhecimento e aprendizagem). O que não se deve entender como algo ruim. E a busca pelos sinais, aqui entendidos como expressões de aviso, nos levam a considerar que mudanças estão ocorrendo na forma como pessoas e empresas estão construindo seus repositórios de conhecimento e seus métodos de aprendizagem. Vejamos alguns desses sinais, muitos já identificados como práticas e hábitos:
Buscar da melhor combinação, conjunção e não dicotomia entre as habilidades humanas e as máquinas inteligentes, será o melhor caminho;
À medida que as empresas se digitalizam e automatizam, a preocupação com o bem-estar e a capacitação dos colaboradores deve ser fundamental na mesma proporção;
Identificar as transformações que podem alterar a sua área de atuação e se interessar por elas será importante para a aquisição de informações essenciais;
Realizar a troca de experiências diárias com os colegas de trabalho ou rede, mesmo à distância, compartilhar conhecimento, fazer buscas na internet, obter feedback do gestor, são agora formas valorizadas de aprender no trabalho;
Dar incentivo claro à autonomia do colaborador, nas formas de aquisição de conhecimento e à intencionalidade no aprendizado, somado a uma abordagem ágil com pequenos encontros regulares podem transformar um ambiente de gestão do conhecimento;
O paradoxo infinito entre o excesso de informação e a fadiga da decisão devem ser minimizados pela presença de uma curadoria (liderança na empresa) capaz de apresentar alternativas, desde que se respeite a diversidade de pessoas e conhecimentos;
Cada vez mais nossa comunicação ocorre por vídeo ou está se tornando mais assíncrona - o emissor envia a mensagem, mas não necessariamente o receptor irá recebê-la imediatamente, buscar uma comunicação escrita quando o assunto assim exige, irá permitir a indexação da informação e garantir de uma base de conhecimento para o time.
Comentarios